Contadora diz que Youssef pagou propina para o governo do Maranhão

Segundo ela, propina favoreceu pagamento de precatórios para construtora. Governo do Maranhão nega que empresa tenha sido beneficiada. 

A contadora do doleiro Alberto Youssef, considerado pela Polícia Federal como líder de uma quadrilha suspeita de ter movimentado mais de R$ 10 bilhões ilegalmente, prestou um depoimento à Polícia Federal, em Curitiba, na quinta-feira (7). O Jornal Nacional teve acesso ao teor das declarações nesta segunda-feira (11). De acordo com os documentos, Meire Poza confirmou que Youssef pagou propina ao governo do Maranhão, em troca do recebimento de precatórios para a construtora Constran, que tinha R$ 120 milhões a receber do governo maranhense.

Youssef está preso em Curitiba desde março deste ano. Ele responde a processos na Justiça Federal relativos à Operação Lava Jato, que trata dos casos de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Outras 19 pessoas também foram presas, entre elas, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Mais de 40 pessoas respondem aos processos movidos pelo Ministério Público Federal.

De acordo com Poza, após o pagamento da propina, que chegou a R$ 6 milhões, o governo do Maranhão começou a liberar os recursos dos precatórios para a Construplan. Pela intermediação, Youssef recebeu R$ 12 milhões, segundo a contadora. Até este mês de agosto, a Construplan recebeu cerca de R$ 33 milhões, em parcelas de R$ 4,7 milhões, cada. A última dessas parcelas foi paga no último dia 6. Os dados estão disponíveis no Portal da Transparência, do Maranhão.

Conforme a contadora, a reunião que fechou os detalhes da operação ocorreu no dia 10 de setembro de 2013. Ela afirmou à Polícia Federal que a reunião contou com a participação de João Guilherme, da Casa Civil do Maranhão, um assessor identificado como Bringel, a presidente do Instituto de Previdência, Maria da Graça Marques Cutrim e uma procuradora do estado, chamada Helena Maria Cavalcanti Haickel. Para Maria da Graça, ficou acertado que ela arcaria com os riscos da operação.

Poza contou também no depoimento que o governo do Maranhão estava pressionando o doleiro, para receber a propina. Se a quantia não fosse paga integralmente, as parcelas do precatório seriam suspensas. A contadora afirmou ainda que, no dia da prisão, que aconteceu em São Luís, Youssef estava na cidade para efetuar o pagamento para pessoas da alta administração maranhense.

Segundo a contadora, Youssef estava com uma mala contendo R$ 1,4 milhão, que seria uma das parcelas da propina. O dinheiro foi entregue a um homem identificado por ela como Marcão. Fotos do relatório da Polícia Federal, no mesmo dia da prisão, mostram o doleiro em um hotel, com um homem identificado como Marco Antônio de Campos Ziegert. Ainda conforme o relatório, Ziegert deixou uma caixa na recepção do hotel, que deveria ser entregue a Milton Braga Durans, assessor especial da Casa Civil do governo de Roseana Sarney (PMDB).
Meire Poza citou também os nomes de Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte. Ela diz que Adarico entregou diretamente ao governo do Maranhão R$ 300 mil, que seriam parte da propina. Ainda segundo ela, um assessor reclamou a Adarico que o valor era pouco e que teria que consultar Roseana sobre o valor.
A Justiça Federal do Paraná deve encaminhar as informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), já que a Corte é responsável por apurar denúncias contra governadores.

Outro lado

Ao ter conhecimento das declarações da contadora, o governo do Maranhão afirmou que o pagamento dos precatórios à Constran ocorreram em cumprimento a uma decisão judicial, emitida por “tribunais superiores federais”, de acordo com a lei. O governo negou que tenha havido favorecimento à construtora.  A governadora Roseana Sarney disse ainda que jamais teve conhecimento sobre o pagamento de propina a qualquer funcionário do governo.

A secretária-adjunta de gestão e previdência à época, Maria da Graça Marques Cutrim, disse que participou de uma reunião como convidada. Segundo ela, os participantes propuseram a criação de um fundo de investimentos, mas a iniciativa foi negada, já que o governo do Maranhão concentra os recursos no Banco do Brasil.

O governo do Maranhão disse ainda que João Guilherme Abreu não é mais da Casa Civil, ele e a procuradora Helena Maria Cavalcanti Haickel não foram encontrados para comentar o caso. A construtora Constran e os demais citados também foram procurados pelo Jornal Nacional, mas ninguém foi encontrado para falar sobre a denúncia.


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